gratidão esfarrapada

Meu amor, não é que eu tenha cansado.

E se pra você isso for um tipo de vitória, deixo aqui minha pena de ti.

Parece que você já veio com um alguns tópicos para serem preenchidos quando fui deixando nossa conversa fluir. Nunca me importei em satisfazer desejos alheios, principalmente de pessoas que nunca fizeram parte da minha vida. Respondi com firmeza suas dúvidas inseguras. Não acreditei que meu trabalho pudesse te assustar. Você arregalou os olhos quando soube o tamanho real das minhas responsabilidades. Gaguejei achando que era por orgulho. Infelizmente era por medo. Desculpas aceitas para sua falta de tato com uma mulher moderna.

Sua maior insegurança realmente era seu ego. Aonde eu buscava uma soma, você planejou uma divisão. Naquele que era pra ser o mais bonito trabalho em grupo construímos uma corrida desigual. E então você errou outra vez. Errou quando duvidou das minhas amizades. Numa mescla de arrogância com prepotência acompanhei a criação do seu gráfico mental de companheirismo. Frequentamos os mesmos estádios por atrações diferentes. Você pelo clube do coração. Eu pela apresentação do guitarrista que tocava na banda que seu pai ouvia. Que você deveria ouvir também, aliás. Beatles podem mudar sua vida. Desculpas aceitas pelo rótulo infantil que você prega para as escolhas diferentes da sua.

Cavou dentro do meu peito um buraco tão raso que mal podia mergulhar. Me achou antiquada quando disse que ali não era lugar. Mas ficou imóvel e gelado, quando descobriu o tamanho da minha chama em quatro paredes. Quer impor domínio mas não sabe se portar quando dominado. Desculpas aceitas para sua insegurança com luzes, por tentar ofuscar o meu brilho e pouco inflamar meu fogo.

Comprei o pacote mais bonito de problemas que encontrei, que era com seu nome. Você queria que eu fosse um momento, eu queria esvaziar a cabeça. Você buscando em mim histórias pros outros, eu buscando esquecer os outros ouvindo as suas histórias. Seu desejo de futuro flertou com a minha agonia do passado. Nosso agora foi um belíssimo encontro de direções opostas. Desculpas aceitas para esse nosso abraço em movimento em uma ladeira.

Mas de onde eu venho, as coisa não funcionam dessa forma.

Acredito que perdas nos ensinam muito mais do que conseguimos absorver. Aprendo com erros do passado em situações que ainda nem vivi. Comemoro minhas vitórias em respeito com todos os dias em que já sofri. Me calar nunca foi uma opção que eu desejei seguir.

Então perdoe minha falta de tempo com esse carinho confuso e covarde, que você diz guardar dentro de ti.

De esfarrapadas, já me bastam as suas desculpas, os amores eu prefiro não ouvir.

Querido, excepcionalmente hoje eu não estou disposta a parar de sorrir.

Grata.

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autor_jorge

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