fossa faminta

Eu adoro comer, independentemente da tragédia que precede a fome.

Então quando você me diz que hoje quer sorvete e muito chocolate, eu realmente ficarei feliz.

Preocupado, é verdade. Mas feliz.

Chego ao teu encontro feliz da vida, mesmo sabendo que alegria é tudo que você não quer. Abro um sorriso e levanto a guarda enquanto você abre a porta. Perdoa o meu deboche, joga a culpa no meu sarcasmo. Eu não entendo porra nenhuma de signo, então pode falar mal do meu o quanto quiser. Eu realmente não vou me importar. Como você é bicuda, vou ter que esperar você escolher o gênero do filme pra entender se hoje você está sentindo raiva ou saudade. Somos eu e você contra o mundo. Como sempre foi.

Teus dedos passeiam sem vontade pelo controle da televisão. As opções brincam entre um romance e um drama. Pergunto se você quer que eu faça uma pipoca antes de começarmos, mas você não responde. Volto a perguntar e então, ouço teu soluço baixinho. Meu coração esfarela. Arranco a almofada do seu braço pra te cobrir num abraço. Deixamos o silêncio de trilha sonora por alguns instantes. Afinal, sabemos que as piores histórias ainda são aquelas que nem sabemos como começamos a contar.

Acaricio seus cabelo e suas feridas.

Deixo que sua coragem ganhe forças graças a tua raiva. Paciência. Você me conta o que aconteceu. Começa como um desabafo e depois quase vira uma bronca, mesmo eu não tendo culpa. Sua voz enfraquece e seus olhos param de me encarar. Seu tom de voz agora é mais tranquilo, como de uma criança que sabe o motivo de ter perdido o brinquedo. Mas ainda não queria parar de brincar. Aproveito a calmaria para perguntar se você ainda se recorda da minha opinião sobre aquela confusão. Escuto que essa parte que mais te irrita, aquela onde eu mesmo não fazendo parte da história, tento ter alguma parte de razão. Arranco um sorriso da sua cara inchada e então seguro a tua mão.

Calma, só foi mais uma paixão que se foi.

Agora eu vou te ajudar a carregar o que você precisar, independente de quanto isso me pesar. Vou ajudar teu sorriso a ficar. Nem tudo que chega ao fim deu errado. Normalmente erramos em como lidar com esse peso do fim da melhor maneira possível, mesmo ele nos ensinando tanto. Ou doendo tanto. Essa cegueira momentânea bagunça a cabeça da gente, da maneira mais cruel que do mundo conhece: odiando quem a gente tanto amou.

Portanto, menina, tudo que eu lhe peço é paciência nessa tempestade. Por mais que ela molhe agora, sabemos que em breve  vai passar. Deixa tuas sementes germinarem do lado de lá e poda tudo que te consumir por aqui. Desata teus nós e quebra tuas correntes. Aproveita essa ventania que vem louca pra te contornar. Desprende do teu cais e deixa o resto do mundo conhecer esse teu jeito, apaixonante e brincalhona. Espalha esse teu conhecimento por onde você passar e colha os encantos com carinho.

Independente da classificação ou gênero do seu próximo filme,

Eu assistirei a sua felicidade com ela se fosse minha.

Pois amigos são pra essas coisas.

Ou para esses filmes.

Vamos comer?
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autor_jorge

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