nossas malas

Existem despedidas dessa vida, que a gente não faz.

São tão rápidas e cruéis que mal podemos acompanhar seus movimentos.

Malditos ninjas do adeus.

Deixam um gostinho de até logo, mas custamos em acreditar. Fechamos a cara com um bico, a alma por proteção e soltamos um sorriso amarelado pra agradar. Um adeus mal dado. Não maldoso. Conversamos baixinho com o silêncio que alguém deixou. Suspiramos buscando palavras, mas não encontramos nem ar. Borrifamos os nossos carinhos ao vento, orando pra que sejam carregados até o lugar em que não podemos estar.

Adoramos negociar no escuro com o futuro, que covardemente ressuscita o passado só pra nos maltratar. Enchem nosso agora de saudades, pra ver se aprendemos como carregar. Saudade, nada mais é, do que a vida sendo sádica explicando pra gente que nem todos os nossos amores, a gente consegue levar pra passear. Parece que a nossa mala é sempre pequena pro tanto de coisa boa que a gente quer guardar. Por isso, recusamos a ajuda pra arrumar nossas malas. Esquecemos propositalmente nossos pedaços na esperança que alguém possa nos montar.

Prometemos a nós mesmos sermos melhores na próxima arrumação. Mais carinho na hora de arrumar a próxima mala, e assim, talvez caiba espaço para alguma lição. Apertamos o nome de alguém junto com um lugar legal. Embolando uma história fantástica e amassando uma risada gostosa, teremos espaço para dobrar nossos devaneios junto com nosso pouco juízo. Cuidado. Não aperta muito pra não quebrar nada, fecha essa tua mala de memórias e carrega com você por toda a vida.

Tem partida que machuca, pois a gente sabe que vai demorar pra abraçar outra vez. A gente conta pra quem não deve todas as coisas que a gente não pode. Só pra ver se quem nem foi, fica. A gente tem orgulho do sangue ser quente, mas tem vergonha de pedir pro outro ficar. Só aprendemos com muito barulho o tamanho da importância de um silêncio.

Rodamos o mundo buscando os caminhos que sempre estiveram dentro da gente. Tem muito adeus curto, confuso. A gente diz que tá chegando sem saber pra onde tá indo. Junta tudo o que falam da gente e vestimos uma máscara que nem é nossa. Amassa tudo e mastiga junto com o orgulho, antes de engolir. No começo sempre cansa. Com os conselhos sinceros fazemos nossos melhores escudos. Confiamos e continuamos andando. Andamos muito. Aprendemos mais um tanto.

Alguns medos desistem no meio do caminho, principalmente quando os encantos da vida tem espaço para trabalhar em paz.

Então antes de ir embora, por gentileza, deixe a maioria dos seus pedaços pra que alguém possa te remontar.

Te procurar.

Encontrar.

Inspirar.

E ficar.

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autor_jorge

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