vizinhos de alma

Foi justamente naquele dia, que ela resolveu sair sem maquiagem, perfume e brincos. Coisa rara pra uma segunda feira. Ou se atrasava para a reunião corporativa, ou juntava tudo e terminava a produção no carro. Ao pegar o elevador, com as mãos ocupadas e cabelo molhado, recebeu aquela ajuda salvadora para segurar a porta para ela entrar.

Mas só quando chegavam próximo à garagem, resolveu olhar nos olhos de quem lhe fez a gentileza.

– Ah, eu não posso me atrasar, desculpe o mau jeito, bom dia!

Ele, reparando em cada movimento daquela mulher fascinante e tão natural, como não via há muito tempo, respondeu com aquela voz aveludada, que ainda saía rouca por causa do travesseiro:

– Imagine, pra mim foi um prazer esta surpresa, bom dia!

– Surpresa?

Ela ia continuando a conversa enquanto os dois procuravam seus carros, já no subsolo.

– Sim, adoro quando não sinto fortes perfumes logo de manhã e esta suavidade sua veio acompanhada de uma imagem inspiradora pra começar minha semana.

Depois de um suspiro tímido, ela continuou:

– Nunca vi você por aqui, é morador novo?

– Não, já moro há mais de um ano. Incrível mesmo nunca ter visto você, mas agora sei que tenho uma vizinha e quem sabe uma amiga… Assim, marcaram um treino de final de tarde, na academia do condomínio.

Se despediram apressados para a tarde que passou devagar.

Ele já estava na sauna, quando ela chegou, por isso não o viu logo de cara e foi, como de costume, dar um mergulho na piscina. Enquanto dava algumas braçadas, o vizinho de voz aveludada, sai com o corpo quente de tanto vapor e dá um mergulho de cabeça, na pequena mas profunda piscina.

Os dois se encontraram na superfície ao mesmo tempo e se olharam, muito. A impressão que tiveram foi instantânea e recíproca, vontade de não sair mais de um demorado abraço que não aconteceu, pelo menos não ali.

Enquanto deixavam de lado os aparelhos e espelhos, sentaram-se na varanda do mezanino e admiravam o mar ao longe. Conversaram sobre tudo, por muitas horas seguidas, quando veio a fome e a sede.

Ainda molhados, subiram juntos  para o jantar combinado, só que agora, depois de conhecerem suas histórias, desejos e sonhos, já não dava mais para manter distância, se juntaram num delicado e ardente abraço, que durou até o vigésimo terceiro andar, onde era o apartamento dele, ela morava no andar que viria depois.

– Daqui a meia hora, ele perguntou quase afirmando e não querendo largá-la.

– Sim, ela consentiu com a cabeça.

Aquela seria a segunda feira mais sensacional que os dois já viveram, não fosse o dia seguinte e os próximos, que eles continuam vivendo.

Até hoje

Juntos.

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