Se der…

Se der, deixa a janela um pouco aberta pra entrar um pouquinho de vento, dar uma arejada enquanto não tem ninguém em casa. Acho que hoje não chove, pelo menos a previsão disse que não. O café tá pronto, pode deixar a mesa que quando eu chegar eu tiro, só coloca água na chaleira, quando eu chegar eu lavo. Eu queria muito que você estivesse lá quando eu voltasse, eu faria o nosso jantar, mas eu sei que você não vai estar, pelo menos eu merecia que você estivesse.

Eu to vendo já que eu vou sentir falta de ver a sua bagunça, quando falo bagunça, eu falo todas. Do sapatos que você deixava “tudo junto”, da bagunça que você fez na minha vida, da bagunça em que você prendia seu cabelo e como você fica lindamente bagunçada vestindo aquela minha camisa dos Strokes. Ela praticamente já é sua, de tanto que você cortou pra lá e pra cá. Quando sair pela porta, pode levar ela com você. Ela é mais sua do que minha, faz um tempo já. Como muita coisa que você vai deixar naquela casa é.

E no meio de todo esse estardalhaço, o que acho, é que eu até me embaraço pra dizer que eu vou morrer de saudade do entrelaço que eu ficava no seu abraço. É até confuso de explicar menina, imagina o quão é difícil de sentir.  Mas tudo bem, prometo que vou cuidar daquela samambaia que você ganhou da amiga, da prima da sua tia. Sempre te disse que o fato dela vir de tão longe e três gerações não terem aceitado, era que alguma coisa ela tinha de errado. Mas você disse que adorava. Eu adoro tudo que você adora, mas acho que o que na verdade eu adorava era adorar você. Que loucura né ?

Na verdade, é melhor assim. Você vai lá, vai sair e viajar. Vai conhecer outros rostos, outras vozes, outros abraços e encontrar em cada abraço algum coração tolo que vai se embananar quando encontrar o seu. Vai fazer de tudo pra entrar no seu ritmo, você sempre vai tocar a dança, como sempre você fez, mas nem sempre você sabia. Eu vou me confundir por aqui, vou tentar não confundir ninguém, eu prometo, mas não garanto. E um dia a gente volta a se esbarrar, a se abraçar e a dançar. Se der me liga um dia, daqui a uns cinco anos, ou mais. Faz o que te fizer bem, mas se nada disso conseguir segurar firme seu sorriso, volta por favor.

E se der, um dia volta pra mim.

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autor_jorge

só pra me contrariar

Nunca fui bom pra entender a maioria das coisas. Entendo menos ainda de pessoas, consequentemente não me entendo. Mas acho que é ai que mora o maior dos segredos que temos, os que nem nós mesmos descobrimos facilmente. Aprendi que algumas coisas são tão curiosas que com o tempo vão se tornando divertidas. Quando aprendemos que muita das coisas que falamos e fazemos não são assim tão corretas, ou são. Confesso ter aprendido muita coisa nesse ano que vem se encerrando e acredite que a maior delas tem sido sem dúvida a mais confusa de todas: Aprendi o quão bom é me contrariar.

Era uma questão de tempo, de lógica. Como alguém pode ser tão sucinto, tão simples para algumas coisas e não ser tão objetivo para outras? Como pode ser tão firme no que fala, mas tão inseguro no que se faz? Como pode ser alguém tão alguém e ao mesmo tempo tão ímpar?
Parei pra pensar na quantidade de vezes que disse sim, querendo na verdade dizer não. Descobri que teria aproveitado algumas coisas se tivesse tentado fazer do meu jeito. Disse não quando queria dizer não, confesso que pensei que o mundo fosse mudar o sentido, não mudou. E foi sensacional. Tentar agradar é bom, tentar se agradar é melhor ainda. Na realidade não é um pedido de desculpas, nem muito menos uma tentativa de liberdade e desapego. É uma simples sensação de segurança em dizer: “-Não obrigado, prefiro fazer assim.”

Fui educado com muita gente, sou até hoje. Mas não se trata disso, se trata de entender que o que antes era para os outros hoje pode ser pra você também. Aprendi diversas coisas com a distância das pessoas. Vi que dói, que machuca, que entristece, mas depois de aprender dolorosamente cada passo desse, eu aprendi que ela não mata. Você deixa de sofrer, passa a viver e simplesmente se adapta com aquela situação de saudade. E não é por que você deixa de se preocupar, de ligar, que você esqueceu. Simplesmente você sente que está tudo bem, quando não sente, vem aquele aperto, aquela inquietude, aquele famoso “5 minutos” e ai sim você vai ver se ta tudo bem, como estão as coisas e dá aquela pequena cutucada na ferida que já estava fechada. Em algum lugar, seja em vidas passadas ou naquele simples último toque, algumas coisas se entrelaçam pra sempre. É como sem dizer nada, fosse dito: “- Quando você precisar sabe que pode contar comigo, ok?”. E dali em diante você sabe que tem alguém que sempre estará olhando por ti, mesmo que não te veja ou fale todos os dias. Simplesmente te protege e te guarda, exatamente como dizem que os anjos fazem.

Não escrevo aqui achando que agora eu vou mudar o mundo. Aliás, essa mudança é totalmente constante, amanhã posso me contrariar, dizer que não me importo e ligar, dizer que quero ver e na verdade se segurar e não ver. Claro que é possível errar, aliás, errar é totalmente normal. Mas às vezes, muitas por sinal, vou deixar de ouvir um pouco os outros, ignorar o fato de saber que alguém sempre vai soltar um famoso “eu te avisei”. Simplesmente hoje, decidi que vou me ouvir, decidi que vou tentar fazer as coisas como eu sempre falei para os outros, sei lá, deve funcionar, eu espero.

autor_jorge

Se

“De todas as coisas que o mundo faz, dar volta ainda é a melhor delas” é impressionante o sentido que essa frase tem com tudo. Parecia um sorriso igual aos outros, parecia que aquele olho brilhava pra ele naquela noite, parecia que tudo ia dar certo. Mas quis o destino que o seu relógio atrasasse, que ele demorasse, que o tempo passasse e que alguém o antecipasse. Nessas horas onde o mais sensato fosse sair, largar, esquecer, ele se foi só de corpo, algo lá dentro resolvia se manter. Ironicamente ou não, sua cabeça ainda parecia não aceitar o tempo que passou, o porquê demorou, queria voltar alguns minutos no tempo, pra ao invés de ter ido até o bar, ter ficado um pouco mais pra conversar. Ai ai essa tal de pressa.

Esse tal jeito acelerado com que se leva tudo, que pulam as etapas, que se casam em baladas, que dizem “eu te amo”. Que se trava no trânsito, que se almoça mal, que se trabalha muito, que se paga mal. Mundo em que se vive intensamente, mas não se vive. Mas ai o mundo gira, a galera delira, as mina pira, descem mais uma garrafa de tequila e termina o dia. Naqueles bons momentos de paz, parece que tudo agora satisfaz e se esquece do que passou alguns dias atrás, pra poder tentar um pouco mais. E agora o tempo não atrasou, a menina chegou, ele esperou, ela acenou, ele brincou, ela sorriu e ele adorou. O tempo passava, a noite esvairando, o dia clareando, os argumentos continuando, os “nãos” só se firmando, o fim se aproximando. Mas quem um dia ira dizer, que antes do dia amanhecer, um presente dele ela iria ter, deixando com ela, a única coisa que o deixava realmente ver. Romântico, malandreado, maloqueiro, apaixonado.

Mas tem hora que o dia parece que gira de lado, parece até que é quadrado, fazendo você deixar de achar que é malandro e perceber que age como um retardado. Não consegue entender onde errou, tinha a certeza clara de que estava dando show. Quando na verdade não, caminhava cada vez mais distante da sua almejada direção. E ai ele se encontram do nada, numa festa animada, com bebida liberada, o problema é que enquanto ele ia, ela estava de chegada. Ela pergunta se ele já vai, ele faz charme, ela não da trela, é inacreditável, parece que o personagem dele só se fode nessa novela. Engraçado, que ela parecia fugir dele, ele não aceitar isso é normal. Mas ele concorda que se fosse no lugar dela, também fugiria. E foram se abrindo as mentes, foram se conhecendo mais, quanto mais ele tentava, ela brincava mais e mais. E ele se irritava, batia no peito que não, do outro lado tranquilo, ela continuava vivendo seu mundo colorido com as amigas e curtindo um bom som.

E então dela, ele recebia um “Oi”, que parecia ser entregue por anjos e vir com um cartão. Ela perguntava se estava tudo bem, ele dizia que sim o que na verdade era não. E então aquela noite do meio de semana, foi diferente do que se já se viu, o avisaram que o “não” seria repetido, ele disse que já sabia e mesmo assim sorriu. Confiante e incansável, realmente, ele tentou. E como um ponta de time grande que bagunça os laterais de times pequenos, ela passou. Fez o que quis, nó tático, ganhou fora de casa e em casa. Duas vitórias em dois jogos, sem sofrer perigo algum de reação. Só que então, aquele sorriso não era comum, aquele brilho no olhar era realmente diferente. Era pra que ele caísse em contradição, pra aprender a falar não. Pra não brincar mais com coração, pra ser um bom menino e ter cuidado com o mundão. Pois ele continua a dar voltas e voltas e já dizia Nando Reis. “O mundo é bão, Sebastião”

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calor

…. Um sorriso que parecia dizer muitas coisas. Parecia que se desculpava, parecia que começa uma conversa com a guarda mais baixa. Desarmado como sempre esteve, ele era o que mais atacava, é ousado dizer que fazia isso muito bem. Talvez sua melhor arma era aquele sorriso, que não se sabia se era espada ou se era escudo. O sofá então afundou ao seu lado, ele todo atrapalhado, com seu jeito desconcertado senta como se não houvesse ninguém ao seu lado. Faz ela levantar levemente, e assim balançar a cerveja, que respinga sobre suas coxas avermelhadas que foram mal protegidas pelo sol que castigou aquela tarde.  Ele num reflexo, talvez malicioso, talvez inocente. Independentemente disso com um sorriso ele pede desculpas, relaxa, respira. E ela o responde.

E o assunto foi começando, o assunto que faltava antes a cerveja foi dando no tempo certo.
Começou com as explicações do jeito todo desajeito pelo o qual ele agia, o sorriso tão bonito que ela carregava, sobre a tarde dela na praia, sobre a vida dele na praia, sobre o quão japonesa ela era, sobre o quanto de pressa que ele tinha da vida, sobre o que da vida ela queria, ele queria a vida inteiro e então ela sorria. Tinham bastante coisa em comum, talvez mais do que imaginavam, tinhas sofrido suas perdas, pareciam que suas perdas tinham os melhorados, parecia que tudo estava andando conforme o roteiro. E naquele sofá desbotado, aquela conversa parecia que as coisas estavam encaixando, os sorrisos não saiam e bebida não parecia estar se acabando.

Jogaram jutos, perderam juntos, beberam mais ainda juntos e separados também. Mudaram de lugar, mudaram de ambiente, chegaram agarradinhos e assim juntos ficaram. Amigos conversando na cozinha, apenas uma cadeira, que ele educadamente ofereceu, ela recusou, pediu que ele sentasse, ele se apertou, ela o relaxou, pegou mais duas garrafas entregou uma ele. Brindaram, ela então se sentou em sua perna, ele a abraçou. Aquele abraço parecia completar tudo que parecia vago naquele momento. O papo flui, a noite caiu, o sol subiu, o povo dormiu. Ela do seu lado, falante e sorridente. Aquele momento parecia fantástico, era tudo o que ele queria naquele momento, era tudo que ele não iria buscar naquela noite. Era perfeito exatamente por não ter sido nada combinado. Ela não era sua namorada, não era ficante ou amiga de infância, ela não era nada. Mas era a menina mais bonita que ele já tinha visto em toda a sua vida. E eu sempre vou lembrar de você, minha loucura predileta.

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A banalização do mundo

Dia desses, eu me vi respondendo diversos temas da mesma maneira. Tudo com o qual eu não concordava, tudo com o qual eu achava que não era como era antes, eu dizia que tinha banalizado. De certa forma eu estava certo, a banalização acontece quando pessoas que não sabem o real sentido das coisas, começam a aplicar essas coisas. Um exemplo chave para o mundo são os estilos musicais, todo mundo acha que faz música. DJ’s que hora ou outra se deparam com alguns “Zé do Som” maquiando toda a cultura, toda uma escola que realmente foi passada para que eles atingissem esse status de DJ.

Pelo menos na mesa de bar, a história começa desbancar pro lado sentimental, quanto mais a bebida entra, as pessoas tendem a ficar mais sinceras (natural). Ficando mais sinceras elas começam a expor seus sentimentos que normalmente elas bloqueiam (natural 2) e são nos auges dessas bebedeiras que encontramos os disseminadores do amor (natural 3). Não concordo com 85% das coisas que o Pedro Bial diz, na realidade, acho que me perco na maioria deles tamanha a falta de nexo, mas talvez ele tenha dito ao mundo uma das coisas mais sensacionais dos últimos anos em apenas uma frase: “É muito fácil amar o outro na mesa do bar.” Gênio! Palmas!

Não que o amor seja mais puro quando é underground, mas o mundo precisa entender algumas coisas, uma delas é que o amor não é água e nem que o amor se dá em árvores. Talvez seja essa nova cultura do mundo,  esse mundo high tech, onde tudo é muito rápido, tudo é muito intenso. A questão minha gente é que amor não se deve ter pressa. Eu te amo, não se deve ter pressa nem pra falar, o problema disso é que muita gente tem pressa pra ouvir. E faz mal uso da palavra, joga no vento. Diz que ama sem amar, diz que gosta sem gostar, escuta sem ser sincero, acredita no que não acontece. Bazinga! O mundo se torna um saco de fingimento.

Mas mesmo com esses problemas, sempre existem as pessoas que nos fazem acreditar. Que nos fazem crer que o mundo é possível amar, sinceramente. Não pelo gole da bebida, não pela emoção do sentimento. Amor vem de várias formas, seja amor de pai, amor de mãe, amor de amigo, amor ao que faz. Amor não precisa ser escancarado, precisa ser dito, mas não precisa ser repetitivo. É difícil fazer o bem quando o mundo vai mal, mas é lindo ver quem faz o bem. É bonito olhar para algumas pessoas e ver que elas são e fazem com que você tenha um motivo para acreditar no mundo. Acreditar que as pessoas são boas, que o mundo não tem problemas ao ponto de tirarem seu sorriso.

Parabéns para os que fazem acreditar que o amor existe, que não se banalize algumas coisas no mundo. Que o interesse diminua. E que nunca seja fácil amar, afinal de contas, tudo que vem fácil, vai fácil.

Parabéns. Os bons ainda são maioria.

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autor_jorge

A gota e o tempo.

Resolvi arrumar o que fazer naquela viagem, não que eu tivesse dezenas de opções, mas a revista não parecia ser um atrativo tão bom, as músicas do iPod não me prendiam mais. Pra ser sincero o tédio daquele trânsito tinha consumido todas as minhas formas de distração daquela viagem. Deparei-me então com aquela gota de chuva, que atire a primeira pedra quem nunca se prendeu a uma. Ela estava lá, parada, por segundos é verdade, mas por tempo suficiente que eu pudesse analisá-la. Já não bastasse ela vir de uma altura absurda. Aquela distância incalculável entre a nuvem que a soltou e a janela do meu ônibus. Ela ainda se deu ao trabalho de se prender ali, não contente apenas com isso, ela começa a descer. Se eu fosse uma gota e viesse de tão longe e pudesse escolher será que eu desceria mais? Não deu tempo de pensar muito ela já havia se juntado a mais ou menos outras oito, nove gotas. Já era uma bela de uma gota que deixava seu rastro para trás e crescia rápido, em direção a borracha da janela é verdade, mas crescia. Até que então sumiu. Era estranho. Naquele curto espaço de tempo eu tinha tirado uma lição tão simples de uma gota.

É fácil e elegante estar no alto. Como a vista é linda da roda gigante, já dizia o poeta Rodox. Só que quando tudo parece perfeito e belo lá de cima, você cai. E a queda algumas vezes é longa demais, parece que não vai acabar. Você começa a procurar culpados, isenta seus erros, se livra da culpa. Fala dessa sociedade que te engole, que estamos caminhando a passos largos para substituir o “Bom Dia” por um “E ai acabou?”. Que o tempo parece não parar enquanto você foi arremessado em queda livre. É mais triste ver que nos acostumamos a viver assim, e achamos que isso é o mais correto e que isso é o que realmente vale para que possamos ser felizes. A maldita queda livre acomoda, maldito capitalismo e socialismo preguiçoso. As regras cansam, as leis enchem o nosso saco, nossos prazos são encurtados e nossos dias também.

E dai você lembra, que ontem foi acordado e tinha apenas aquele sonho bobo de ter 18 anos, poder entrar na faculdade e dirigir o carro da mamãe. Queria que o gosto da cerveja parasse de amargar a sua boca, queria também, que aquela menina morena dos olhos azuis que sentava na terceira fileira te desse uma chance de dizer o quanto ela era linda. Você começa a entender que a sua queda era parte do destino, para de isentar os outros de seus fracassos e enganos, para começar a ponderar o que conquistou com tudo isso. Tornou todos esses sonhos em realidade. E você depois de tempos em tempos caindo, para de querer achar culpados, para de querer isentar seus erros, você para de cair. E começa a conquistar. Afinal, parte de ti, quem conquista é você.

Você consegue tudo que você acredita que conseguiria, buscando as pessoas certas nas horas certas, as erradas nas horas certas, até as boas, nas horas erradas, claro, as erradas nas horas ruins. Mas conquista. Sonhando ou não. Você para de perder e começa a agregar, começa a juntar os seus parecidos, começa a se juntar com quem se identifica, como a gota que se junta com outras gotas, cresce, embala e vai. E volta a crer que só queria fazer com que as coisas dessem certo, por mais tempo. Começa a agregar cada vez mais e mais, e começa a deixar sua semente, sua marca. Você também começa a deixar seu rastro. Talvez sonhasse que as coisas tivessem mais tempo para poder dar certo.  Quer saber, vou sonhar. Quem saiba dessa vez eu sonhe com um dia de 40 horas. Já iria me ajudar em muita coisa.

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Frio.

Que frio absurdo que faz lá fora, ruim até de conversar. É aquele frio que inibe que prende a gente, que agasalha, que protege, que parece que te encolhe. É aquele maldito que frio que faz a gente parar e pensar duas vezes antes de sair, faz aquele banho quente parecer a oitava maravilha já criada no mundo. Mas frio por frio faz em todo churrasco depois daquela piscina que te atacam, quando viram um balde de gelo em você após uma vitória difícil contra aquele time do morro. Frio é aquilo que percorre a sua espinha quando passam aquele algodão com álcool no seu braço buscando uma veia, isso é frio. E você sobreviveu muito bem a isso tudo.

Pega então uma bonita camisa, uma cor neutra, não é de chamar atenção. O cabelo desarrumado  já é uma marca tão registrada que você se sente desconfortável quando o penteia na frente do espelho. E mesmo assim penteia, pra em seguida bagunçar. Simples na forma de se vestir, simples no jeans que veste, o tênis um pouco surrado, que ainda dá muito bem pra sair. Não importa o pano que cobre seu corpo, importa seu corpo estar coberto. Sua peça mais bonita ainda é o seu largo sorriso e o papo bom. E parece que hoje os astros resolveram conspirar.

Júpiter se alinha então com Marte. A luz do  Sol reflete de tal maneira na Lua que a mesma sorri tímida pra Terra. Ela parece acompanhar o sorriso da Lua, olha pra dentro da janela enquanto a amiga se arruma. Não estou afim de sair hoje. Choraminga baixo, para a amiga  ter com isso os quatro sentimentos esperados na ordem que ela deseja. Raiva, Birra, Compreensão e Aceitação. Ela linda, cabelo bagunçado, provocante, um vestido negro que deixa o ombro desnudo, a maquiagem com apenas 30% do caminho andado pra ela parece ótima para acompanhar sua cerveja e seu cigarro. Pensam em mais cerveja, pensam em mais amigos, pensam e sair outra vez. Acendem um outro cigarro e abrem mais uma garrafa.

O telefone toca, a amiga então se afasta e fala baixo. Com o rabo de olho a encara, gesticula bastante. Começa a acreditar que em caso de amputação dos membros superiores, a amiga poderia ficar muda. Ela desliga e sorri amarelo. Eles não tinham aceitado muito bem o bolo mas resolveram passar lá pra fazer o esquenta com elas. Ela gostou, uma companhia não seria de todo mal. Mais uma garrafa, agora deitada no sofá enquanto assiste a um filme que parece estar pela metade, ela acredita estar no começo, mas de tão sem pé nem cabeça ele acaba. Não dá nem tempo de xingar, a campainha toca. A visita chegou.

Os olhares se cruzam logo de primeira, não que tenha um leque de opções para se olhar, mas eles se encontram ao invés de se cruzarem. Cumprimentam-se cordialmente e não se destravam. Malditos traços orientais que lhe prendiam a atenção a franja desobediente lhe dava um ar de ousada. De companhia agradável de toques sutis e de um calor acolhedor para aquela noite fria. Maldito cabelo bagunçado, era assim que queria sair? Em completo desalinho? Mas podia. Aliás, podia qualquer coisa com aquele sorriso. Só com o sorriso ele parecia abraçar, parecia acolhedor e confiável, o cabelo desarrumado como as roupas diz ao contrário. Maldito esquisito. Gostou.

Não se senta e já vai direto para a geladeira. Se existisse um paraíso em forma de geladeira seria algo parecido com aquilo, forrada. Volta pra sala com a garrafa na mão, ela olha com o canto do olho, ele recua. Ao invés de acuar aquele olhar parecia atiçar, mas ele não sabia o que responder.  Acabou fazendo o que tinha de melhor, deu um gole e sorriu…

(…continua)

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autor_jorge

Maldito seja esse alguém…

Ai esse tal de alguém, esse grande filho de uma cadela. Pelo menos o alguém vem substituindo cada dia mais o fulano ou até mesmo o beltrano. Maldito seja esse alguém.

Eu realmente não entendo o motivo de se meter, palpitar ou julgar algo que acontece ou não se refere a você, sei lá, são pessoas que entram na sua vida e realmente roubam seu tempo. Não só seu tempo, sua vida eles também vão roubar. E se seu psicológico for extremamente abalado eles vão roubar sua mente também. Principio básico de como se manter vivo diante desse “certo alguém”, não deixe que eles roubem sua história. A sua verdadeira, a que você viveu.

Baseado claro em coisas que não fazem sentido algum. Afinal eles debatem, discutem, julgam, classificam e fazem o diabo, sendo que não seguem de maneira nenhuma o que eles mesmo falam. São a prova viva do “faça o que eu digo não faça o que eu faço”. Gostam de tratar assuntos que não competem em absolutamente em nada para eles. Não confiam em você, na grande maioria das vezes duvidam disso, sentam ao pé da sua cama e questionam isso de você. Mas eles são íntegros o suficiente para dizer que quem destrói sua confiança, não é ele, é o “alguém”. Auto-estima é luxo. Eles não tem, e vão atrás da sua, afinal você tem muita, é absurdamente brilhante e agregador (a), mas sabe quem vai agredir a sua auto-estima? Não é ele, é O Alguém.

Eu realmente acredito e entendo que algumas pessoas ficam traumatizadas, mas não acredito que precisem traumatizar os outros, por experiências que eles não passaram. Pare, respire e reflita. Estilhaçaram o seu pouco que resta de esperança no amor. Não o dos outros. Aceite isso. E não é culpa do “alguém”. Aliás fale menos dele que o coitado, já deve estar com a orelha vermelha.

E já parou pra refletir como as pessoas, que tanto julgam saem dessas situações onde elas tratam como bolo de festa e saem enfiando o dedo? Eles saem ilesos. Não é nada que afete a eles, não tem nada a perder. Oras, porque não palpitar julgar e se meter em algo que eu só sei olhando por fora, superficialmente e não tenho curiosidade nenhuma de saber realmente como as coisas aconteceram. Vamos foder com esse alguém, a culpa é dele, sempre.

A questão é que se infelizmente se você se viu emocionalmente envolvido por esse texto de alguma forma, é melhor tomar cuidado com a sua vida. E um pouco menos de cuidado com a vida dos outros.
Mas esse é o mundo da internet, da falsa liberdade de expressão onde as coisas são ditas e totalmente ignoradas. Como diria Cazuza: “É como escrever poemas em papel higiênico e limpar o cu com os sentimentos mais nobres.”

Pois é mestre, que um dia essas coisas sirvam pra alguns, ou então para o famoso alguém. 

autor_jorge

Error

…o interfone tocou. Precisava descer, haviam me deixado uma entrega. Era uma manhã de domingo. Aquele tempo bem meia-bomba, não se sabia ao certo se era a chuva chegava ou se ia embora. Um bolo de nuvens acinzentadas pintava o céu, elas se moviam deixando em suas frestas alguns tímidos raios de luz. Desço então para pegar a tal entrega, não sei se irritado ou curioso. Alguém havia se dado ao trabalho de me fazer com que aquela entrega chegasse no domingo, o que torna essa pessoa uma filha da puta de marca maior. Ou então, lembrará de mim no sábado. Imaginar isso me confortava bastante, ser lembrado no dia em que muitos tentam esquecer do resto da semana, que fofo.

Recebo um pequeno envelope. Abro. Dentro dele um envelope menor, dentro desse envelope menor estava um cartão. Liso, simples, pequeno e direto, do tamanho de um cartão de visita. Estava escrito: “Erros…” Virei o cartão em busca de alguma coisa que completasse a palavra, ou que simplesmente desse algum sentido aquilo que eu acabava de receber. Nada. Agradeci seu João por ter me avisado da entrega e subi para meu apartamento.

Erros, que palavra mais nada com nada, sem sentido algum em um dia comum, um envelope direcionado para mim sem sentido algum, o que diachos queriam me dizer. Ou então, pra que raios queriam que eu pensasse? Não entendia nada, e meu sono já havia se perdido em meio aquela dúvida. Não largava o cartão da mão, confesso que ate tentei dobrar a pontinha pra ver se tinha algo dentro, fazer como fazia com as minhas figurinhas. Em vão.

Sentei-me então na beirada da cama. Envelope no chão. Cartão na mão. Mão esquerda esfregando o rosto. Odeio charadas, mas aquela realmente estava me deixando intrigado. Deu a lógica, não consegui parar de pensar nos meus erros. A questão é, quais deles? Não que eu seja um caso perdido, mas tinha meus problemas, como qualquer jovem do século XXI, nasci na década certa, sou geração X Y Z e quero fazer tudo que acredito que consigo fazer. Acabo me atrapalhando às vezes. São conseqüências. E sobre querer fazer tudo ao mesmo tempo hoje eu erro menos. Já errei muito. Sofro menos.

Me irritei por não conseguir resolver aquela maldita charada,então resolvi guardar aquele cartão. Abri a carteira. Me deparei com o cartão de visita da minha empresa. Era estranho colocar um cartão com aqueles dizeres logo na frente do lugar onde ralei tanto para estar. E era uma senhora contradição, afinal de contas se estava tão longe como tanto queria e tanto sonhei, foi porque aprendi com meus erros. Aprendi, amadureci e conquistei.

Foi então que eu comecei a rir daquilo que tanto me irritava, me debrucei na janela, a vista pra praia não é algo que todos podem se dar ao luxo de ter. Nem eu mesmo poderia me dar a alguns dias atrás, mas foi depois de algumas coisas que fui vivendo, lutando, que busquei onde eu estava agora. Com o cartão na mão eu via que erros tinham sido passageiros, e aconteceram, só erra quem tenta. Só aprende quem erra.

Pensei em jogar fora. Mas então pensei duas vezes. Meu celular vibrou. Era um e-mail. Ai esses celulares com internet. Gostava mais daquele antigo de toque polifônico e tela de uma cor só. Mas sem problemas, esse celular também estava agora ali graças a um erro. Um erro de cálculo na dose da bebida. Eu jurava, que depois daquelas doses de absinto, meu celular alçaria vôo depois de ser arremessado da janela. Erro infantil.

Era um e-mail de um remetente chamado “Passado”. Pensei ser vírus, é claro. Mas a mensagem do mesmo, calhava com o dia: Erros. Abri quase que automaticamente ao ver aquela palavra que já estava fazendo parte da minha manhã. O e-mail, como infelizmente já esperava, era direto. E no corpo do e-mail apenas: “… nos fazem aprender a ser pessoas melhores. Ou não.”

Lindo. Perfeito, singelo e tocante. Era absolutamente tudo que eu precisava para completar o tal cartão que havia recebido. Não sei quem foi, mas foi genial. Tão simples e tão bem pensado.  E eu podia responder com toda a certeza aquele e-mail: “… nos fazem aprender a ser pessoas melhores. Ou não.

Honestamente, muito obrigado.

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sim, eu dou voltas.

Ontem pareciam que as flores tinham nascido mais coloridas, sinceramente, pareciam que todas tinham nascido ao mesmo tempo. Elas eram bem vivas, robustas e vibrantes. Os pássaros ainda cantavam, o sol brilhava forte. Era tudo tão bonito, tão mágico. As pessoas estavam sorrindo pra você, elas pareciam estar bem pelo simples fato de estarem lá. Todo mundo agradecendo por viver e não por estar vivo. Você sentia como se o que o quinto dia útil do mês tivesse caído numa sexta.

E hoje? Continuou-se o ciclo de rotação. Simplesmente o astro rei resolveu não dar as caras por aqui, os pássaros que ontem cantavam sem parar, estão se escondendo do frio que insiste em soprar forte. O uivo da brisa fria arrepia, entristece e isola. E como se as flores que ontem brocham, se fechassem de vez. Espero mesmo que elas se abram amanhã, porque sinceramente seria uma pena se elas durassem tão pouco. Mas fique tranqüilo amigo, eu vou continuar a girando, você vai continuar a passar por dias ensolarados com as turistas desfilando seus biquínis coloridos de lá pra cá, sem parar.

E se você vai passar por outros dias como o de hoje, em que a sua janela sofre pancadas de chuva tão fortes, que parece que o pelotão de fuzilamento está logo na frente dela. Sim, terão mais dias assim, e eles vão ser piores. Você ainda vai passar por alguns dias assim totalmente sozinho, depois de ter assistido algum filme péssimo e o seu celular vai receber uma mensagem dizendo apenas: Saudade. E será enviado por alguém que está totalmente inacessível no momento. O que provavelmente vai te deixar com vontade de chorar e apertar o travesseiro.

Então chore. Chore muito. Sem miséria nas lágrimas, mermão. Pra que quando o Sol se abrir no dia seguinte, você possa sorrir sem culpa, livre, feliz, sem peso algum nas suas costas. E é assim que as coisas são. Seja forte. Pra ver neve você vai ter de sair daqui e vai ter que viver o mundo lá fora. Se isso te assusta eu vou repetir: Vá viver!

Por isso filhote, mexa esse lombo do sofá ou dessa cadeira que já tem até a sua forma. Vá estudar, vá trabalhar, se especializar, vá ficar bêbado, vá dizer para alguém que não preste que você o ama, vá chorar no ombro de uma amiga depois que ele não prestar (e claro vai ouvir dela um  “ele não te merece”, e retrucará com um “eu já sabia”). A questão meu querido é que amores vem e vão, e a aprenda que você tem que viver muito, pois o mundo tem muita volta pra dar. E não tentar me carregar nas costas, pois por maior que seja a sua vontade. Você não vai conseguir me abraçar sozinho nunca. Vá com calma, respira e viva. E de preferência, preocupe-se em viver a sua vida, não a dos outros.

Com Carinho

Mundão.

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